30 de novembro de 2007

Ácido

Por que eu não senti do seu lado a raiva que eu sinto agora, quando eu podia gritar que eu não precisava passar por isso de novo, que eu não suporto te ver encaixada no maldito clichê da menina que SEMPRE acha que vai ser melhor assim? Por que eu não senti na hora o que eu estou sentindo agora, essa necessidade infernal de berrar essa mágoa imensa de ver o que podia ter mudado isso se tornar uma reafirmação do mesmo? Por que? Por que você me tirou de onde eu estava, por que acordar essas coisas? Só pra negá-las? Você sente? Por um maldito segundo sequer você esteve comigo nisso ou eu não passei de um palhaço o tempo todo?? Eu não quero ser seu amigo, não quero que você me ligue quando tiver brigado com o namorado! Não quero ser a sua gueixa, não quero ser a sua puta!! Não, eu não fico lisonjeado de ser o “príncipe”, o “inspirador”, esses consolos ridículos pra não ter sido algo REAL!! Não quero ser o complemento pra quando você achar que está tudo errado, se no dia seguinte você vai dizer pra si mesma que “pirou”! Eu não quero ser o cara que você chamou quando você “pirou”! Eu quero ser o cara que a sua RAZÃO diz que é o certo! Eu quero sim, que você fique comigo! Quero te beijar em público, quero chegar aos lugares segurando a sua mão, quero poder te levar pra cama sem estar ferindo a mim ou à outras pessoas. E sem a humilhante suspeita de que isso foi concedido por outro. Sem você se preocupar no outro dia por ter cometido o erro de me machucar mais por ter se deixado levar por um impulso agora irreal e romântico!

Tenho ÓDIO de ter voltado pra esse lugar de solidão, de dor, de humilhação! Esse inferno de privação de carinho, de companhia e de sexo! Tudo que eu já conhecia! Tudo que eu passei a minha maldita adolescência provando enquanto imbecis gozavam dentro de mulheres sempre tão elogiosas da minha sensibilidade e talento!

Houve noites em que eu precisei demais, precisei de verdade conversar com alguém, mas não pude contar com você porque você passou a ser o clichê da menina que precisa afastar o carinha inconveniente que não quer entender. Mas eu precisava MESMO conversar com alguém. Porra, onde estava a pessoa que me disse que só eu entendia, a pessoa que disse que éramos feitos da mesma matéria, a pessoa que eu achei que entenderia, que não pode ser a mesma que me disse ironicamente que me tinha pena e que “isso acontece todo dia”?

Não gosto que você me diga com frieza que quer que eu namore e seja feliz! Eu quero que você não queira me ver com outra! Não quero ser parte de um sistema onde cada um tem um papel, onde de cada um você só pede o que você acha que pode te oferecer! Principalmente se o meu papel é curto, é escasso, é raro! Não quero esse papel porque eu continuo a existir quando se desfaz o raro e instável “universo paralelo”, continuo existindo e precisando DESESPERADAMENTE de afeto, inteligência, estabilidade, amor, realidade e sexo! Eu quero me sentir completo e estável na situação! Isso é o certo! Eu não me propus NUNCA a sentir o gostinho do errado, eu não me propus a tornar as coisas relativas a uma circunstância apenas. Eu me propus a viver o certo ainda que em outra parte e o certo é eu não precisar mais passar por esse INFERNO de dor e solidão! Não vou aceitar a noção estúpida, esse conservadorismo que se vende moderno, essa idéia odiosa de que deve haver algo seguro e algo que satisfaça o resto, com hora marcada, não pra ameaçar, mas pra reforçar a segurança! Pra que alguém quer algo assim?

Não me diga que você está apaixonada por mim, mas não quer viver isso! Isso simplesmente não existe!! Quem gosta, quem sente isso, não agüenta optar por não viver isso! Eu passei por todas as situações onde tive interesse prévio sem poder vivê-las, eu jamais teria aberto mão delas! Não se eu pudesse tê-las vivido! Isso definitivamente não existe! Mas se esse sentimento é algo que pode ser controlado, eu não o quero porque não é. Se é um devaneio de quando você “pira”, eu não o quero. Se for só isso, é algo que me humilha. Se eu posso ler um poema com você, mas não posso fazer compras com você, isso me humilha. Se eu não sou “o de verdade”, isso me humilha! Eu preciso de uma vida junto, não de uma noite bela. Eu preciso de uma vida junto com quem eu possa ter uma noite bela. E duas. E três. E sempre! E eu não precisava passar por essa dor odiosa, essa dor que me enoja, essa dor insuportável de novo! MERDA!


 (2006)

Monóxido de Carbono

Não me bata na cara falando das possibilidades que eu ainda tenho, apesar de você. Só eu sei o dano que isso me fez, por ser tão exato. Exato como o fio fino como sintonia fina do estilete, como afinidade. Tão cínico, como sempre, o discurso do que ainda pode! Cínico e conveniente! Pois não pode! Não posso!

Não posso porque você foi uma antítese que surgiu apenas pra confirmar a tese, golpe consistindo em ataque e contra-ataque, na verdade um só movimento magistral da dor, dizendo "eu não sou o prólogo da felicidade". Um instrumento feito sob medida pra tirar de mim o que construí sobre o que não tive, pra faltar mais perfeitamente. E pensar que a tentativa de se negar ao que pode vir é apenas uma das primeiras etapas do processo de voltar ao mesmo. E por isso eu digo que não pode e aí talvez eu finalmente te entenda. Te entenda até você dizer, só agora, que pode, mas não era a hora. E pressentir nisso uma facada envenenada de não era eu. Você tinha razão. Fiquei com raiva disso.

A arte, você diz. Por que me sinto ludibriado? Tão belas coisas. Tão belas as coisas que eu posso vir a produzir elaborando mais essa. As pessoas me dizendo do quão lindamente eu soube afirmar com arte a inviabilidade da vida, enquanto vivem, outros detentos do planeta-prisão, a viabilidade de bem menos da metade do que devia ser. Você vai me admirar e respeitar. E eu vou me consolar com isso quando sozinho no quarto, sem saber o que fazer de mim, encontrando novas dores em palavras que você já esqueceu, sem saber o que fazer dela, me pedindo conversa comigo. Tão belas perdas pra compor minha personalidade interessante e encontrar pessoas tão interessantes pra se tornarem perdas ainda mais ricas. E produzir coisas ainda mais belas.

(...)

Por isso entenda: eu não escrevo pela arte, eu não desenho pela arte. Eu não ouço música só pela arte. Eu escrevo pra tentar registrar e transmitir a minha experiência, pra você entender, pra me fazer consciente e conscientizar. Eu escrevo pra alguém no mundo concreto e posso dizer sem vieses literários o seguinte: a arte que se foda. Como o padre Vieira, quero que olhem para a lua que aponto, não para o meu dedo. Eu não quero sublimar coisa alguma, não quero fazer terapia, quero romper com este jogo. Não quero elaborar a falta, nem yungueanamente me individuar, não quero crescer para perdas ainda maiores, para um dia rir disto e com o riso tirar o sentido de tudo, inclusive, sem o saber, do que então for, como quem quebra as paredes sem perceber que o chão também se foi.

(...)

Não quero sublimar, não quero crescer, embora crescendo e sublimando outras coisas tenha me tornado quem sou, quem se aproximou de você de uma forma tão específica. Porque crescendo e sublimando agora sou chamado a crescer e sublimar e começo a me perguntar se a arquitetura do inferno não segue um padrão espiral, centrado no vazio. E se eu cortar a espiral com uma reta, talvez veja que estamos no mesmo ponto, mas você num giro além. Você nasceu num giro além. Eu dizia que a vida humana era sem esperança, tirando esperança disso por te ver concordando – minha querida, minha única – concordando no ponto em que os outros se fariam peças de um sistema de clichês otimistas pra me aprisionar e se defender, esquecido tolamente de dar ouvidos ao que eu mesmo dizia: a vida humana é sem esperança. Esquecido tolamente também de que você concordava sem esperança com o que eu dizia. Bom, foi você quem disse que a identificação era mútua. Não quero sublimar, não quero crescer, porque crescendo e sublimando outras coisas foi que me tornei quem sou, quem perdeu você de uma forma tão específica.

(...)

De uma outra vez, casualmente, eu falei do cachorro que, sempre chutado, mordia agora, por ato reflexo, quem o afagava. "Metáforas" - você disse, sabendo que isso tinha endereço - "eu sei que você me odeia".

Verdade. Com toda a antimatéria do que poderia ter sido, do que foi. Com a qualidade única de cada tom das canções com que trilhamos o episódio, tornadas agora chaves sonoras para infernos muito particulares. Com um pavor religioso da repetição do roteiro imbecil do carinha que sofre e da menina que sempre diz vai ser melhor assim. Com a sensação de estar de volta a uma Belo Horizonte onde já andei a esmo, fazendo perguntas raivosas e tardias, em silêncio. Com a náusea da consciência de existir. Com a perplexidade de um feto um segundo antes do aborto. Com orgulho ferido. Com insegurança. Com saudade. Com amor.

(...)

Não me peça pra voltarmos a ser o que nunca fomos. A outros você dirá que tivemos uma história muito complicada, mas que hoje eu já tenho isto mais bem resolvido. Coitado. Pastou. E eles te ouvirão, quem sabe pensando que são, eles mesmos, novidades na sua vida.

Quanta raiva em pensar que posso impulsivamente aparecer na sua casa, quando algo me diz que eu deveria me negar a um papel menor e sabotar o sistema que te dá força para nos impossibilitar enquanto mais que amigos e imaginar que você vai me abraçar e perceber os meus tremores e se solidarizar com o momento que estou passando e dizer a si mesma eu o quero bem espero que supere isto logo. Quanta raiva em pensar que em não conseguindo me afastar sou parte do oxigênio eventual que te ajuda a permanecer dentro da cúpula que te afasta. E que afastado sou monóxido de carbono para os meus próprios pulmões.

Não me diga que sou viável ainda, com outra. Não faça isso. Não me mostre o quanto é fácil pra você, porque não te creio altruísta o bastante pra me desejar bem em outra parte sem que isto signifique que na verdade não te faço o tipo de falta que eu queria fazer.

(...)

Não quero me individuar, querida. Não quero sublimar ou faltar. Não quero evoluir. Quero te beijar e dizer nem as trevas podem vencer sempre. Nem as minhas, talvez nem mesmo as suas.


(2005)

Chumbo

Minha leitura do que aconteceu ainda é muito caótica. Odeio, sinto saudades. Quero perdoar, quero estapear. Fui único, fui mais um. Fui, ainda sou. Você é fraca, você manipula. Você pensa em mim, você sente prazer em saber que eu penso em você. Sou importante, sou um chato. Sei viver a vida prática, sou mais um tipinho pra você colecionar. Eu errei, você viu a tempo. Eu estava certo, você teve medo. Eu sou o menino do espaço, você minha conterrânea. Eu sou déspota, você pomba-gira. Eu sinto sua falta, eu sinto falta da menininha. Eu sinto falta da renda preta, eu sinto falta do broche de florzinha. Não sei. Eu monto e remonto as coisas. O que houve? Qual é a melhor reação? Qual é o tom correto a empregar? O caleidoscópio gira.

Eu me identificava, eu entendia, eu queria e gostava de estar junto. Você se encaixou em muitos espaços. Um dia você disse eu também. Simples assim. Por que não? Aconteceu. Foi a primeira e ultima vez que te vi dizer “estou tão feliz”. E de repente, sou demais, sou de menos. Sou qualquer coisa que não pode. Sou o “bom de conversar”. Porque “isso na vida a dois não dá certo”, mas “aí vai lá e trepa, satisfaz”.

Você nunca se incomodou com a idéia de que quanto éramos estava sendo rebaixado diante de um outro discurso? E você nos rebaixava dizendo “isso aconteceu porque – nós dois – temos a necessidade do romântico”. Eu não. Não de uma forma tão predisposta a ilusões e projeções como sugerido aí, tão dentro de um molde, tão inferiorizada diante do “morno, mas real”.

But i will fight the distance between us*. Eu não estava disposto a abrir mão com facilidade. Mas é o tipo da coisa que não se ganha sozinho e você desertou. Eu lutava por e contra você, por – e talvez - contra eu mesmo. Sentia que havia algo em você que eu precisava vencer, uma resistência. Admita que eventualmente você parecia acenar por trás disso, me encorajando. Coisas que você dizia. E depois ficava a impressão raivosa de que você é alguém controlando as suas próprias flutuações, que havia algo lúcido por trás das marés. Como eu era “uma das coisas que aparecem quando algo está dando muito errado” e depois “eu te avisei”? A “malícia de toda mulher” é tudo o que eu não esperava e não queria em você. Mas onde tinha ido parar aquele “nós”?? E você aparecia leve, aparecia acompanhada. E ela também. Quanto ódio! Ah, eu precisava sim! Saber como assim, saber se ainda. Achar o nós. Aquele, lembra? Mas se não tinha um lá fora, pra que diabos abriu-se a janela?

Estou te entregando com esta umas outras. Coisas que escrevi ao longo desse ano e meio. Não encare como mera arte, ok? Sabe que isso me ofende. Gostaria mesmo – se você quiser – de ler as coisas das quais você me falava.

Pois é. Mais uma historinha? Mais uma carta pra guardar? O carinha que sofre e a menina que sempre acha que vai ser melhor assim, de novo?? É isso que me mata! Podíamos ter sido um meio-termo. Simplicidade sem superficialidade. Profundidade sem loucura. Sem Werther e sem Alberto. Simplesmente a afinidade tendo a liberdade.

Espero mesmo que admitir afeto e rancor não me faça parecer inferior e dominado aos seus olhos. Seria um erro encarar assim. Saudades de você e de ficarmos juntos, das minhas mãos nos seus cabelos.

Um beijo de olhos abertos da sua alma-afim.



*My Dying Bride

(2005)

Álcool

Tenho vontade de pegar uma gillette e anotar o que você me disse sobre as nossas imensas diferenças. E escrever umas linhas sobre as coisas caminharem assim, esse estranho fatalismo das coisas que dão errado. Eu nunca quis que você me acompanhasse até estes lugares. Se você quer saber eu mesmo não estava lá. Eu pensava em você o tempo todo quando estava com eles. E pensava se você pensava em mim. E não importa o que pareça quando eu, vencido pelo menino, te chamo pra conversar. Eu nunca te pedi pra parar de comer carne, nunca pedi pra você visitar minha família, nunca te pedi pra usar aliança. Nunca sugeri nada sobre os seus hábitos. E pensar naquela ocasião em que você foi solidária comigo diante de uma piada do dono do bar. Sou capaz de sorrir de olhos úmidos me lembrando. Não que o comentário tenha sido tão incômodo, mas porque você pareceu ter ficado incomodada e pareceu que uma linha feita de afinidade cruzava as outras sobre a mesa.  Eu me lembro das mesas com as garrafas vazias, do meu copo que permanecia vazio e ocioso e das conversas que tínhamos, nós dois, "tão diferentes um do outro", e que nunca eram, como outras, vazias e ociosas. Eu via até certa beleza nisso.

Querida, quanto valor em te ouvir dizer que se sente a vontade comigo, quanta beleza estranha a este mundo. Não quero crer que os momentos que redimem a existência são só mais uma piada que ela nos prepara.

(...)

Dói como se estivéssemos obrigando as coisas a darem errado, seguindo algum roteiro idiota sobre tudo mudar, as tragédias intrínsecas da vida e o carinha que sofre e os mal-entendidos.

Fui feliz enquanto os pontos negros foram se esclarecendo. Trouxe outros tantos da nossa última conversa e espero que se esclareçam também. Passam por você algumas das melhores memórias da minha vida. Eu te amo.


 (2005)

Enxofre

Rebaixar-nos a carentes românticos, impregnados de mídia. Então, vejamos. Foi como um disco. Belas e falsas coisas que você se permite no intervalo do seu pragmatismo. O parêntesis. Como mostrar-lhe o que ouvir isso de você me fez? Pedindo-te que suponha que alguem querido lhe diz, vejamos... que você "precisa de um homem que lhe coloque cabresto e que no final, fera domada, lhe serás grata". Dizendo que "toda a sua vida é uma fraude". Dizendo que "todos os seus livros nada mais fizeram que tornar-te uma idiota". Acrescente algo. Imagine que quem lhe diz tais coisas não é alguém de antemão desprezível, nascido do outro lado. Imagine que é um dos seus. Imagine mais, que é o. Que ele lhe diga que a Terra é chata sim, que foi feita em sete dias, que viemos do barro, que pro casamento durar tem que ser com um peão. Que nós darwinistas arrogantes e presunçosos temos muito que aprender. Então vou ao inferno em busca de luz pra ouvir de Lúcifer não apenas que Deus está certo, mas que é católico apostólico romano...

Não vou prosseguir assim, que vai ficar parecendo arte e o que eu tenho pra dizer é simples como o que eu sinto. Você conseguiu. Chamar-nos "românticos" mudou o passado. Malditos moldes! Não foi em atenção a uma mal polida aresta de fantasia que deixei que acontecesse. Case-se com este a quem chamou de "peão", mas não me ligue pra se queixar, que não sou bispo resguardando a torre quando ela estiver ameaçada. Quando você quiser profundidade sem loucura e simplicidade sem superficialidade me procure.

(...)

Não me diga que é mais essa coisinha menos, esse jardim cheio de placas, avisos e grades, com hora pra visitação e distância estabelecida. Partir o que sente e delegar funções às pessoas à sua volta, administrando. Desculpe, querida, não aceito mais o outro lado da mesa. Não caibo ali. Dói, será que você não entende? Pra você é fácil a esse ponto? Desculpe, não vai dar. É que foram muitas vezes e é sempre assim. E depois, não dá pra acreditar mesmo. Eu sei que ainda posso te ver lado a lado com a contradição explicita de todo o discurso com que você nos impossibilitou. Não sei se consigo não odiar, se isso acontecer. Não, eu sei. Eu vou te odiar.


(2005)

Há apenas o que lamentar

Há apenas o que lamentar. Seu afastamento me leva uma parte da vida. O que resta é odioso, menor. Eu observo silencioso essa raiva imensa dentro de mim, como um rio de lava. Ela forma rochedos de ódio calado, que passam a fazer parte das minhas paisagens. Viver é perder e há quem glória queira ver em assim, como um tolo, padecer. Parece uma busca desesperada de que faça sentido e para tanto essa busca exige que tudo que é desejo de beleza e ordem passe a ser chamado de orgulho. Querem ver Deus em tudo, apenas porque é tudo que vêem e precisam acreditar que ele está lá. Esperam que eu me faça outro, que abra mão. Feridas inconsoláveis, que vão sangrar pra sempre. Viver é um longo pesadelo. Nunca mais eu vou ter a esperança de ser feliz.

Sou tanto, sendo apenas mais um.

2 de novembro de 2007

Canção que o Nelson teria cantado



E eu fico refém de nada dizer
Pra ninguém pensar
Que estou muito magoado
E querendo manchar
Sua reputação.
E eu fico refém de nada dizer
Pra não me encaixar
Na fôrma daquele cara
De quem você fala
Em mesa de bar
Contando a história da perseguição
De uma criança contrariada
Que ficou atrás da pobre coitada
Que nunca fez nada
Pra cativar
Tão sombria obsessão.
E eu imagino o olhar
Da gente indignada,
Do amigo e da namorada,
Do teu novo protetor
Ouvindo que eu te persigo
Que tenho o orgulho ferido
E inventei que é amor.
E eu fico refém de nada fazer
E fico a morrer pra não assinar
A confissão que você redigiu
Pra me fechar nessa sacanagem,
Me enterrar nesse personagem.
E eu fico refém de evitar
Que isso te envaideça,
Mas o refém é o cara
Com uma arma na cabeça.

1 de novembro de 2007

Xícara

Cabe numa xícara de café
Toda a razão pra eu me por
De pé.
E quando cessa por inteiro
Todo seu breve sabor e cheiro
Se derrama pra dentro da xícara
O veneno que me põe de volta
Na cama.

20 de março de 2007

Peço Passagem



Se de rastejar a lagarta se cansa
Eu de pensar e de sentir virei casulo
Peço passagem a outro plano
Que é nulo todo este rastejar
Do ser humano
Andar é pesar e ao respirar
Sorvemos sempre algum veneno
Existir tampouco é inofensivo
Seu principio ativo já começa a corroer
O mecanismo do teatro do viver

Chega com essa farsa
Perdeu a graça ser humano

É asa o que no verme é padecer
Destes pés, de seu peso e caminhar
Peço passagem ao plano do ar
Que já não acho natural
O andar que é ser lagarta e doer
Ou o faltar que dizem parte do ser
Nego a norma de ser normal
O mal que é norma do viver
E sinto mais mal na norma
Que normalidade em sentir mal

Chega com essa farsa
Perdeu a graça ser humano

O ranger da engrenagem
Do esforço que faço existindo
É o ruído do mundo rindo
Traço de veneno no trago sorvido
De suco de sede.

Chega com essa farsa
Perdeu a graça ser humano