30 de novembro de 2007

Enxofre

Rebaixar-nos a carentes românticos, impregnados de mídia. Então, vejamos. Foi como um disco. Belas e falsas coisas que você se permite no intervalo do seu pragmatismo. O parêntesis. Como mostrar-lhe o que ouvir isso de você me fez? Pedindo-te que suponha que alguem querido lhe diz, vejamos... que você "precisa de um homem que lhe coloque cabresto e que no final, fera domada, lhe serás grata". Dizendo que "toda a sua vida é uma fraude". Dizendo que "todos os seus livros nada mais fizeram que tornar-te uma idiota". Acrescente algo. Imagine que quem lhe diz tais coisas não é alguém de antemão desprezível, nascido do outro lado. Imagine que é um dos seus. Imagine mais, que é o. Que ele lhe diga que a Terra é chata sim, que foi feita em sete dias, que viemos do barro, que pro casamento durar tem que ser com um peão. Que nós darwinistas arrogantes e presunçosos temos muito que aprender. Então vou ao inferno em busca de luz pra ouvir de Lúcifer não apenas que Deus está certo, mas que é católico apostólico romano...

Não vou prosseguir assim, que vai ficar parecendo arte e o que eu tenho pra dizer é simples como o que eu sinto. Você conseguiu. Chamar-nos "românticos" mudou o passado. Malditos moldes! Não foi em atenção a uma mal polida aresta de fantasia que deixei que acontecesse. Case-se com este a quem chamou de "peão", mas não me ligue pra se queixar, que não sou bispo resguardando a torre quando ela estiver ameaçada. Quando você quiser profundidade sem loucura e simplicidade sem superficialidade me procure.

(...)

Não me diga que é mais essa coisinha menos, esse jardim cheio de placas, avisos e grades, com hora pra visitação e distância estabelecida. Partir o que sente e delegar funções às pessoas à sua volta, administrando. Desculpe, querida, não aceito mais o outro lado da mesa. Não caibo ali. Dói, será que você não entende? Pra você é fácil a esse ponto? Desculpe, não vai dar. É que foram muitas vezes e é sempre assim. E depois, não dá pra acreditar mesmo. Eu sei que ainda posso te ver lado a lado com a contradição explicita de todo o discurso com que você nos impossibilitou. Não sei se consigo não odiar, se isso acontecer. Não, eu sei. Eu vou te odiar.


(2005)

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