30 de novembro de 2007

Chumbo

Minha leitura do que aconteceu ainda é muito caótica. Odeio, sinto saudades. Quero perdoar, quero estapear. Fui único, fui mais um. Fui, ainda sou. Você é fraca, você manipula. Você pensa em mim, você sente prazer em saber que eu penso em você. Sou importante, sou um chato. Sei viver a vida prática, sou mais um tipinho pra você colecionar. Eu errei, você viu a tempo. Eu estava certo, você teve medo. Eu sou o menino do espaço, você minha conterrânea. Eu sou déspota, você pomba-gira. Eu sinto sua falta, eu sinto falta da menininha. Eu sinto falta da renda preta, eu sinto falta do broche de florzinha. Não sei. Eu monto e remonto as coisas. O que houve? Qual é a melhor reação? Qual é o tom correto a empregar? O caleidoscópio gira.

Eu me identificava, eu entendia, eu queria e gostava de estar junto. Você se encaixou em muitos espaços. Um dia você disse eu também. Simples assim. Por que não? Aconteceu. Foi a primeira e ultima vez que te vi dizer “estou tão feliz”. E de repente, sou demais, sou de menos. Sou qualquer coisa que não pode. Sou o “bom de conversar”. Porque “isso na vida a dois não dá certo”, mas “aí vai lá e trepa, satisfaz”.

Você nunca se incomodou com a idéia de que quanto éramos estava sendo rebaixado diante de um outro discurso? E você nos rebaixava dizendo “isso aconteceu porque – nós dois – temos a necessidade do romântico”. Eu não. Não de uma forma tão predisposta a ilusões e projeções como sugerido aí, tão dentro de um molde, tão inferiorizada diante do “morno, mas real”.

But i will fight the distance between us*. Eu não estava disposto a abrir mão com facilidade. Mas é o tipo da coisa que não se ganha sozinho e você desertou. Eu lutava por e contra você, por – e talvez - contra eu mesmo. Sentia que havia algo em você que eu precisava vencer, uma resistência. Admita que eventualmente você parecia acenar por trás disso, me encorajando. Coisas que você dizia. E depois ficava a impressão raivosa de que você é alguém controlando as suas próprias flutuações, que havia algo lúcido por trás das marés. Como eu era “uma das coisas que aparecem quando algo está dando muito errado” e depois “eu te avisei”? A “malícia de toda mulher” é tudo o que eu não esperava e não queria em você. Mas onde tinha ido parar aquele “nós”?? E você aparecia leve, aparecia acompanhada. E ela também. Quanto ódio! Ah, eu precisava sim! Saber como assim, saber se ainda. Achar o nós. Aquele, lembra? Mas se não tinha um lá fora, pra que diabos abriu-se a janela?

Estou te entregando com esta umas outras. Coisas que escrevi ao longo desse ano e meio. Não encare como mera arte, ok? Sabe que isso me ofende. Gostaria mesmo – se você quiser – de ler as coisas das quais você me falava.

Pois é. Mais uma historinha? Mais uma carta pra guardar? O carinha que sofre e a menina que sempre acha que vai ser melhor assim, de novo?? É isso que me mata! Podíamos ter sido um meio-termo. Simplicidade sem superficialidade. Profundidade sem loucura. Sem Werther e sem Alberto. Simplesmente a afinidade tendo a liberdade.

Espero mesmo que admitir afeto e rancor não me faça parecer inferior e dominado aos seus olhos. Seria um erro encarar assim. Saudades de você e de ficarmos juntos, das minhas mãos nos seus cabelos.

Um beijo de olhos abertos da sua alma-afim.



*My Dying Bride

(2005)

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