16 de dezembro de 2004

Vácuo ansioso

Deixar as coisas irem. Soltar a ausência, caixa vazia. Ir em frente, como se considerando normal a brutalidade e o absurdo dessa falta. Por que vieram as coisas, se iriam assim?

Este vácuo ansioso, este ódio ácido, esta íntima revolta que se recolhe esperando.

13 de dezembro de 2004

Pessoa


8 de dezembro de 2004

Diálogo

- Você sabe que eu não posso concordar com isso.

Já previa aquela resposta, sabendo que findavam ali as negociações.

- Voce vive de fantasias. Parece que gosta de sofrer. - disse

- Você vai fazer de novo, não é? Vai deixar acontecer. Vai deixar como está pra ver como fica.

- Sabe que eu começo a dar razão ao mundo? Suas expectativas são impossiveis, às vezes eu acho que você não quer estar satisfeito.

- Eu nunca vou esquecer de onde eu vim, a musica do paraiso vai continuar tocando e você vai se lembrar mesmo que ela esteja aos pedaços, mesmo que eu toque ao contrário. Eu vou sobreviver mesmo que o meu nome seja nome de doença.

- Eu vou te caçar até os confins.

- Não haverá conciliação entre nós. - disse, partindo para o subterrâneo.

3 de dezembro de 2004

A sombra na pista.

Noite a R$ 1,00 em dada casa noturna da Savassi e, como está quase dentro das minhas possibildades financeiras, lá vou eu com velha amiga, veterana nas lides do vazio e do desejo. À mesa de um bar, antes da entrada, comento-lhe sobre certa dor de ego, provocada por circunstâncias cujos detalhes, como de praxe, dou a conhecer apenas à sombra.

Já dentro do recinto, eu vejo a pista apinhada, observando com a garra fria no coração todo a beleza e a miséria da pós-modernidade. Velhas frustrações vêm ter comigo, como querendo me convencer de que são reais.

Minha amiga e as outras meninas trocam experiências entre si, num jogo cujas combinações permitem mesmo um eventual heterossexualismo.

Um velho desafeto, arlequim de outros carnavais, se esperava que eu traísse a causa de nossa contenda, decepciona-se. Não que o desejo me poupe de seu tridente, mas só com a sombra flerto nesta noite. Como agora, com a sinceridade.

O rock dá lugar à música eletrônica e eu posso abandonar os porões para me manter naquele degrau da consciência onde eu me detenho admirando a beleza matemática das equações sonoras. Quando uma forma escura e vertical se ergue no ar eu me lembro das palavras de Schopenhauer: "arquitetura é música congelada".

Minha amiga me pede conselhos sobre certa aventura e se despede. Eu só saio pouco depois das quatro. A noite é cinzenta e fria, bela. Eu não me sinto bem.

2 de dezembro de 2004

Consciência Velada

A consciência velada
Negociada
De verdades,
Responsabilidades
Adiadas
Seções inteiras
Lacradas
Energia morta
Neuroses
O apego às ruínas
Refúgios de uma alma
Que se nega e pressente
As artimanhas do tempo
Agindo sobre ela
Reino que resiste
Nas sombras do inconsciente
Que guardam o trono
De algum antigo soberano

A verdade

A verdade é uma linha reta
Rumo à morte e vai de encontro
Aos muros do mundo,
Verdades também
Eu morreria no seio
De um puro não
Se ao menos me restasse
Uma opção
Abra a mente
E as pernas
Para a nova novidade
Que já vem anunciada
Em cores berrantes
Festa dos ignorantes
Em novas formas e sabores
E embalagens, veja
Eles já estão sorrindo
Já esqueceram
O que não viram
E nunca houve o quinto dedo
Que lhes falta
E os senhores do futuro
Sabem que eu estava lá
Sabem o que eu vi
E sorriem quando ficamos a sós

Infeliz impotência

Pudesse eu, pagar-te-ia o duvidoso valor de uma existência que se cobra. Mas maldito seja, se mesmo o papel em que escrevo te pertence. Se é vergonhoso ganhar as coisas e odioso conquistá-las. Se se perde na conquista. Se a maldita culpa me aponta o dedo, mas não o caminho.

Pudesse eu, pagar-te-ia o duvidoso valor da existência, porque se amaldiçôo são teus o papel e a pena em que escrevo, como é tua a tinta. Conquistarei o direito a essa horas, quando tiver dado ao mundo o que ele quer, quando lhe tiver dado meu cansaço. Serão minhas então, as noites, e o papel e a tinta, e toda a pena do mundo, para cobrar o ter-me tido que me dar para ter a mim mesmo. Noites de tempestade, em que cavalgarão deste sentir os corcéis negros em planícies carbonizadas. E ao céu erguer-se-ão as descargas ruidosas em negra apoteose. Que seja. Se vergonhoso é ganhar as coisas e odioso conquistá-las, escolho o ódio.

Ou quem sabe ainda devolvo-te a existência.

Cores berrantes

Então as cores berrantes na tela formam agora um borrão escuro. Então a cerveja do guarda desceu quadrada e virou pó na sua mesa. E agora tua filha encontrou um jovem de futuro promissor, como lhe ensinaste, e este jovem será conhecido de todos. E mandará em todas as falanges e convidará o teu chefe pro churrasco. E agora o fascismo é o tempero das mesas fartas de engolir e das quais não caem sequer migalhas. E o urgente urge e o importante espera. E o país que não lê se cansa dos livros e quer um roteiro de ação. E tem desejo de matar. E só nos resta uma alternativa na rota errada que tomamos à direita.

30 de novembro de 2004

Dark