2 de dezembro de 2004

Infeliz impotência

Pudesse eu, pagar-te-ia o duvidoso valor de uma existência que se cobra. Mas maldito seja, se mesmo o papel em que escrevo te pertence. Se é vergonhoso ganhar as coisas e odioso conquistá-las. Se se perde na conquista. Se a maldita culpa me aponta o dedo, mas não o caminho.

Pudesse eu, pagar-te-ia o duvidoso valor da existência, porque se amaldiçôo são teus o papel e a pena em que escrevo, como é tua a tinta. Conquistarei o direito a essa horas, quando tiver dado ao mundo o que ele quer, quando lhe tiver dado meu cansaço. Serão minhas então, as noites, e o papel e a tinta, e toda a pena do mundo, para cobrar o ter-me tido que me dar para ter a mim mesmo. Noites de tempestade, em que cavalgarão deste sentir os corcéis negros em planícies carbonizadas. E ao céu erguer-se-ão as descargas ruidosas em negra apoteose. Que seja. Se vergonhoso é ganhar as coisas e odioso conquistá-las, escolho o ódio.

Ou quem sabe ainda devolvo-te a existência.

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