3 de dezembro de 2004

A sombra na pista.

Noite a R$ 1,00 em dada casa noturna da Savassi e, como está quase dentro das minhas possibildades financeiras, lá vou eu com velha amiga, veterana nas lides do vazio e do desejo. À mesa de um bar, antes da entrada, comento-lhe sobre certa dor de ego, provocada por circunstâncias cujos detalhes, como de praxe, dou a conhecer apenas à sombra.

Já dentro do recinto, eu vejo a pista apinhada, observando com a garra fria no coração todo a beleza e a miséria da pós-modernidade. Velhas frustrações vêm ter comigo, como querendo me convencer de que são reais.

Minha amiga e as outras meninas trocam experiências entre si, num jogo cujas combinações permitem mesmo um eventual heterossexualismo.

Um velho desafeto, arlequim de outros carnavais, se esperava que eu traísse a causa de nossa contenda, decepciona-se. Não que o desejo me poupe de seu tridente, mas só com a sombra flerto nesta noite. Como agora, com a sinceridade.

O rock dá lugar à música eletrônica e eu posso abandonar os porões para me manter naquele degrau da consciência onde eu me detenho admirando a beleza matemática das equações sonoras. Quando uma forma escura e vertical se ergue no ar eu me lembro das palavras de Schopenhauer: "arquitetura é música congelada".

Minha amiga me pede conselhos sobre certa aventura e se despede. Eu só saio pouco depois das quatro. A noite é cinzenta e fria, bela. Eu não me sinto bem.

1 comentário:

  1. "Não que o desejo me poupe de seu tridente, mas só com a sombra flerto nesta noite. Como agora, com a sinceridade."
    Você não sabe, mas eu entendo, talvez até mais do queria, cada palavra.

    Gostei do blog. Vou voltar.
    =)

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