27 de fevereiro de 2005

Dark

26 de fevereiro de 2005

Morfina

Qual dessas frutas recém maduras
Vai ser a minha cocaína?
Qual dessas meninas
Vai ser a matéria em que eu caio
Expulso do paraíso?
Qual delas me dá o corpo
Em que esqueço a minha alma?
Entre que pernas vou buscar a escuridão
Pra ofuscar a luz da consciência
Da dor da sua ausência?
Pra nublar a noite cheia de estrelas distantes?
Em que carnes vou matar o meu espírito?
Vem, menina,
Vem ser a morfina pra tanta dor!
Vem ser o corpo
Onde despenca o meu abismo!
Deixa eu morrer em você, menina,
Turvar com suor a centelha divina
Chamada tristeza!
Vem me libertar de mim
E trancar num minuto
A eternidade dessa pena!
Vem, menina,
Apequena a minha alma!
Vem ser o túmulo
De natimortos sentimentos!
Vem, menina,
Vem dar à treva
Pra eu cair no esquecimento!

planeta-prisão

Nestes dias em que a alma segrega ácido
Quando se pode ouvir a vida rindo com sarcasmo
E a esperança sai rendida do esconderijo
E as jóias sagradas são carvão na máquina
Moto-contínuo de dor e desilusão
E o mero carinho até tenta
Mas não consegue – nem deve – entender
O que me pede pra dizer¸ em vão
Nos dias em que se quer deitar e não ser
Mas é preciso lutar
Por uma triste vitória
Quando fazer o certo é morrer
E você sente que vencer é perder
E crescer é se tornar menor
E essa dor, sangue e vidro,
Que as linhas descrevem melhor
Quando traçadas com estilete,
Grita e se debate, insana,
Morrendo num jargão
E o amor, rota frustrada de fuga,
Faz sentir mais dura a pena
No planeta-prisão
Nestes dias eu te deixo
Com a pureza das respostas das crianças
Na estreiteza da sua cela
Com teus remédios
Tua crueldade edificante
Com tua fé e tua certeza
De que a vida é bela