Ao fracassado convém se convencer de que a grama do outro só é mais verde porque vista daqui. Ao fracassado convém achar que só a idealização faz parecer que o posto almejado era melhor.
Aceitar o fracasso é provar em boca alheia o contra-gosto da uva, o gosto invertido da uva saborosa (é sim). Esse veneno que – Deus queira – vai te matar de câncer, e rápido. Só assim se conhece o verdadeiro sabor do fracasso, da rejeição.
Ao fracassado convém crer que só perdeu aquilo que idealizou. Que a uva nem existia.
O fracassado até pode evitar o não-sabor da uva, engavetando essas considerações, ao invés de emoldurá-las na alma. O que ele não pode é desconhecer essa verdade. O que ele não pode é negar fé ao documento.
Ao fracassado convém transcender a luta, psicanalizar a uva. Ao fracassado convém achar que o fracasso é ilusório, por mais que a vitória do outro seja real e (hum...) uma delícia!
Ao escritor de livro de auto-ajuda convém vender ao fracassado. Escritor de livro de auto-ajuda adora dizer que a uva não é tudo, que existe pêra, maça, amora, banana-nanica, banana-sofisma. Se bobear, tenta inclusive emplacar que o vencedor foi quem ficou com o abacaxi. Filosofia barata se compra a quilo, mas a verdade é que a uva não é uva, é metáfora, é a própria fruta. E que a fruta – que também não é fruta - poderia ser qualquer uma delas, mas acabou.
Ao fracassado convém achar que a vida continua. E continua mesmo, a desgraçada. A uva é que não.
21 de abril de 2008
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Eu quero minha banana-sofisma! Ela me faz bem!
ResponderEliminar"Destino eu faço / Não Peço / Botei todos os meus fracassos / Nas paradas de sucessos."
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